quinta-feira, 29 de abril de 2010

A farmácia pessoal das nossas crianças



Portugal é o país da Europa que mais medicamentos antidepressivos, ansiolíticos e hipnóticos consome. Números que só se aproximam dos dos EUA.
Um estudo recente revelou que temos uma incidência, de novo próxima dos norte-americanos, de «doenças mentais» como a depressão, ansiedade, ataques de pânico e por aí adiante. Números que se presumia diziam respeito a adultos, mas que provavelmente incluem também as crianças e os adolescentes.
Sabe-se que temos um número elevadíssimo de meninos diagnosticados com hiperactividade, e medicados. Lembrei-me de tudo isto ao ver, na BBC 2, um impressionante documentário do reputado jornalista e historiador Louis Theroux, sobre os «Miúdos Medicados nos EUA», na sequência de um alerta da Sociedade de Psiquiatria daquele país.
O jornalista começa por entrevistar a família de Hugh, uma criança de 10 anos, aparentemente normal, mas que tem no parapeito da janela da cozinha uma «farmácia pessoal»: Aderall para a hiperactividade e défice de atenção, Tenox para a impulsividade, Seroquel, um antipsicótico poderoso, para a desordem bipolar.
A mãe garante que só aceitaram a medicação porque já não conseguiam viver com o comportamento do filho, revelando que toma Prozac e o marido um antipsicótico. A filha mais nova não está medicada, mas o cão toma um ansiolítico.
Hugh é apenas uma dos milhares de crianças medicadas nos EUA, e o ponto de partida desta reportagem que procura perceber se este é um caminho necessário ou um atalho perigoso, de consequências imprevisíveis.
Especialistas inquiridos chamam-lhe uma cultura de «esteróides para a alma» ou de «psicofarmacologia cosmética», que mascara problemas familiares graves que deviam ser abordados através de terapias comportamentais, outros afirmam que é tudo uma questão de má educação, e há quem diga que pais competitivos procuram o efeito estimulante de muitos destes remédios.
E há quem garanta que antigamente estas crianças seriam colocadas num hospício ou em coletes de forças e agora têm direito a tratamento. O que ninguém contesta é o sofrimento destas famílias. Uma coisa é certa, era urgente começar em Portugal este debate.

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