quarta-feira, 7 de abril de 2010

Portugal é o país da Europa com mais doenças mentais

Os números apanharam de "surpresa" o próprio coordenador nacional para a saúde mental, Caldas de Almeida. Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população e aproxima-se perigosamente do campeão mundial Estados Unidos. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida. Para um grande mal, poucos remédios: 67% dos doentes graves estão sozinhos com o seu problema e nunca tiveram qualquer tratamento.

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As perturbações mais comuns são as da ansiedade, com 16,5%, que em 3,2% dos casos assume proporções graves. "As pessoas costumam pensar que a depressão é que é grave, mas esquecem-se da ansiedade. Muitas vezes tem consequências também de grande gravidade", refere o coordenador do estudo. Neste conjunto, o mais comum são as fobias a situações específicas, com 8,6%, seguidas da perturbação obsessivo-compulsiva (4,4%). As depressões atingem 8% do total e, dentro destas, os bipolares representam 1%. Para uma segunda fase ficam as doenças psicóticas, como as esquizofrenias. Por terem uma dimensão menor, os casos não foram apanhados neste levantamento. Nas perturbações do controlo dos impulsos, 1,8% dos doentes têm explosões interminentes. O comportamento irado de alguns portugueses ao volante é o exemplo para a manifestação desta perturbação. Caldas de Almeida sublinha ainda que a hiperactividade/défice de atenção, normalmente associada às crianças, tem também expressão nos adultos: representa 0,4% das perturbações do controlo dos impulsos.


O estudo português integra um projecto liderado pela Universidade de Harvard e pela Organização Mundial de Saúde, que reúne 30 países. Estes são ainda os dados preliminares e, de acordo com os investigadores, muita da informação recolhida tem ainda de ser analisada. Um dos grandes objectivos é traçar o diagnóstico para depois adaptar os serviços de saúde às necessidades destes doentes. Os dados já recolhidos permitem perceber que a diferença entre Portugal e os restantes estados europeus é abissal. Aos 23% de prevalência nacional, Espanha contrapõe 9,2%, Itália 8,2% e a Bélgica 12%. Próximo do diagnóstico português apenas está a Ucrânia, com 20,5%. "É um padrão atípico", admite Caldas de Almeida. No caso das doenças graves, Portugal supera os 6%, enquanto que os outros países do Sul se ficam por 1%.

Para explicar a complexidade deste levantamento (feito em parceria com o centro de sondagens da Universidade Católica), Miguel Xavier, outro dos responsáveis pelo estudo, divulgou alguns números: 3849 entrevistados com mais de 18 anos, 150 entrevistadores, duas horas médias para cada entrevista e algumas a chegarem às quatro horas, seis anos desde o arranque do projecto. Pedro Magalhães, da Católica, refere que "foi o maior e mais complexo estudo" daquele centro.

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